quinta-feira, 19 de julho de 2012

"Quando bate uma saudade" (Paulinho da Viola) na voz de Pedro Miranda e Teresa Cristina

"Quando um poeta se encontra
Sozinho num canto qualquer do seu mundo
Vibram acordes, surgem imagens
Soam palavras, formam-se frases
Mágoas, tudo passa com o tempo
Lágrimas são as pedras preciosas da ilusão
Quando, surge a luz da criação no pensamento
Ele trata com ternura o sofrimento
E afasta a solidão"



quinta-feira, 12 de julho de 2012

Metamorfose


Era adocicada, pura, límpida, quase pálida
Murmurava, sorria, sentia
Dissertava quanto a coisas bonitas
Sobre o futuro, de uma forma afetiva

Agradável, por que não?
O temor inicial? Diluiu-se
Abracei-a, recebi
Coloquei sobre meu pranto paterno
Divaguei quanto a histórias e sonhos
Expus fragilidades e medos

Imaginei, por um momento, sorrir
Não um sorriso trágico ou infausto
Mas sim, um sorriso do Éden

Porém, do sorriso fez-se o escárnio
Lamúrias e repulsa
Assista você
Você!

Preterize-se  e a assista agora
Não és humana, sequer
Vomitas pedância como quem compôs apego
O que és? O que foi?
Sorria, sim
Pois transparece o sinistro

terça-feira, 10 de julho de 2012

Plácido desgaste


A tragédia é inerente a minha vida. Isso é uma constatação! Concebo-me num misto de romances literários, perpassando por Jorge Amado e seus homens caricatos, pela Gente Pobre de Dostoiévski, até o final funéreo de ordem rodrigueana. Minhas narrativas se conduzem ao vislumbre do óbvio, em sua forma mais crua e deprimente, oriunda do cansaço da maturidade.
Como diria Nelson Rodrigues: “É batata!”. Minhas dúvidas se confirmaram, uma a uma, desde o começo, desde a gênese, quando se quer imaginava o período. Nunca tive profunda exatidão quanto a tempo, embora a matemática me contemplasse em questão de conjunturas. Mesmo assim, não sei por que diabos, ainda lamento algo que já era previsível. Acho que o gosto momentâneo da felicidade desvirtuava, por alguns instantes, o fim, o frio, o evidente. É como se a listagem dos tópicos fossem uma a uma sendo confirmada, tamanha era a complexidade da estruturação literária, de causar inveja ao melhor crítico de revista especializada.
Não questione minha passividade, sei que para o leitor é simples apontar os erros do protagonista, apenas se oriente pelo enredo. Há medos e dúvidas no decorrer do romance, porém no fim só restam certezas. Certeza que felicidade é acompanhada da sobriedade e da solidão. Aventuras, agora, somente em outras esferas, que tal um romance policial ou um suspense ácido, com ações mirabolantes dignas de chamadas de TV.
Não, agora é o fim! Desisto dos romances burgueses principescos, onde tudo se aflui, isso não existe! Por viver e sofrer sozinho, por lutar sozinho, concluo que a vida não se faz de sentimentos nobres ou de intencionalidades, mas sim de humanidade, mesmo que mínima. Subjetivamente sou e serei só, isso é o que me comove. Objetivamente sou e serei coletivo, daí agradeço a ética dos heróis literários, mesmo dos derrotados.

Mais um começo

E, finalmente, depois de 5 anos, encerremos mais um ciclo. Formados de História-UFF, turma "Proletários de Clio" (2/2011). Com muita honra fui o orador dos amigos, que já deixam saudades. Segue o discurso abaixo, amplamente ovacionado pelos presentes:


"Hoje, se inicia um novo ciclo na vida de cada um dos formandos aqui presentes. Muitos seguirão carreira na graduação escolhida, outros optarão por outras atividades, porém o sentimento será o mesmo: a lembrança dos fragmentos que compuseram o tecido poético e cotidiano da convivência, da ocupação dos espaços da universidade, em suas narrações, diálogos, ócio e trabalho intelectual, criador e reprodutor de ferramentas que possibilitam uma atuação maior junto à sociedade.
Nossas responsabilidades aumentam a partir de hoje, pois o acúmulo empregado nesses anos de graduação já nos dão dicas quanto à compreensão dos fatos do dia-a-dia, reflexo de uma construção histórica atreladas a características econômico-sociais, culturais e políticas. Do caos intelectual que grande parte foi induzida a inserção nesse curso superior, hoje, ao final dele, se esboça de forma sistemática a possibilidade da retórica, da ação, da mudança, da indignação, de um profissional que se enxerga além das premissas sistêmicas engessadoras da criatividade e da atuação com ampla possibilidade de construção e reconstrução, afinal estamos em constante aprendizado consigo mesmos e com o mundo.
Hoje é um dia especial para todos, não só por concluir uma desgastante caminhada denunciada por noites em claro, resultado das, ainda, insistentes avaliações, por horas de prisão nos transportes públicos, pelo dispêndio e dificuldades financeiras gastas com turbina intelectual, dentre zilhões de premissas que conjugadas nos incentivavam a prosseguir com mais garra junto ao objetivo final. Os presentes sabem da dificuldade que foi concluir esse curso! Cabe ressaltar que somente 10% dos jovens brasileiros estão no ensino superior, desses, um pouco menos de 3% tiveram o privilégio de frequentar uma universidade pública!
Deliberações comandadas por órgãos internacionais financeiros ditam as política a serem aplicadas na Educação, principalmente, em países periféricos, como é o caso do Brasil. Menos de 3% do PIB é investido em Educação, sendo que o repasse é para o setor privado, também. Tais premissas são fundamentais para exaltarmos o dia de hoje, que além de toda cerimônia contemplando os novos historiadores se destaca por convergir conjunturalmente com um período especial nas universidades públicas brasileiras. Hoje, no Brasil, mais de 50 universidades aderiram à greve que reivindica uma melhor reestruturação de carreira para os professores. Na UFF, ocorre uma greve unificada dos três setores (técnicos, professores e alunos) cientes da impossibilidade de progredir com posturas verticalizadas e opressivas, que sequer consultam os interesses dos reais afetados.
Hoje, é o dia em que convergimos com essa linha. Apesar de divergências ideológicas, no presente quórum, todos têm uma certeza: somos historiadores, portanto, somos inconformados! Inconformados com a injustiça, com a intolerância, com a opressão, com egoísmo, com a repressão, com a falta de amor e lealdade ao próximo! Somos a favor da diversidade, do respeito, da harmonia, do sorriso! Sorriso que ofusca a cansaço e abrilhanta o olhar calejado de cada presente! Sorrisos que serão convenientes a cada recordação, a cada averiguação de relações contemporâneas ao acúmulo da universidade, a cada saudade, a cada dia...
Não, não é o fim! É a apenas o começo de uma nova vida, novas demandas, novos laços e, principalmente, novas perspectivas e despedidas! Como dizia um velho barbudo: Os filósofos até o momento só fizeram interpretar o mundo, o mais importante não fizeram, que é transformá-lo”. Eis que chegou nossa hora, agora como historiadores habilitados, transformemos nossas vidas com humanidade e revolução!"

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Central


Num paredão em frente, a seguinte afirmação: “Se a coisa tá muito ruim, é porque tá perto de melhorar”, embaixo a figura de Bezerra da Silva, o compositor dos artistas periféricos. Rostos desgastados promovem a textura classista da Central do Brasil. Homens e mulheres de várias idades, porém, com algo em comum, a exploração e a melancolia latente em sua aura. Fenômeno que às vezes me contamina diante da passividade do cotidiano. Minha principal aspiração é, em meu “egoumbiguismo”, viajar sentado, torcida sempre em vão, devido ao enorme contingente de trabalhadores e o transporte ultra precário que se decai, a cada dia.  
O ambiente é o misto de odores: fritura, urina, suor e, principalmente, angústia. A subsunção do trabalho ao capital é um das maiores crimes que o sistema se legitimou a conceber a esses seres. A pele envelhecida, em sua textura esmiuçada, os olhos longe, sem consciência, e o temor de pensar no próximo dia. Enfileirados, com esperas de até uma hora, aguardamos pacientemente o fazer-se dos ditames da hegemonia. De forma resignada, cabe a nós, sem consciência, sem amor, sem vida, não pensarmos, apenas seguirmos. O Palácio Duque de Caxias, ao lado, se apresenta, voluntarioso, para uma repressão, caso a estação mais perigosa do Brasil conceba a desordem.
Apesar do calor, a frieza é mórbida. É o se sentir alijado, massacrado pelo sistema. Talvez, eles já tenham sonhado um dia. Quem sabe. Hoje, são presos, sem paixão, sem vontade, sem vida. Todos os dias, observo os rostos e a expressões de um a um, em sua tristeza, em seu desgaste, em sua retidão. E ao adentrar-me no ônibus, percebo que essa é principal tendência. Cansaço, desânimo, perda da vivacidade. Sintomas que são diluídos em casa, com um banho e o sono. Sim, tenho medo de ficar como eles. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Dias frios

Eis-me aqui, somente casca, vazia, inerte, sem calor

Estou vivo, é uma certeza, falo, penso, ajo

Porém, não há alma, apenas sobrevivência

Seguirei, até o final da praia, disso há certeza

Mas não olharei o mar, as conchas, a areia, as pessoas...


Minha alma se foi, nublada, vítima, algoz, que seja

Roubou-me o dia, o sol, o instante

Os registros insistem em ironizar-me

No sorriso sincero, fragmentam-se lembranças, incontáveis

Lembranças do cotidiano, no íntimo, no social, no respirar

Anatomia que dominava, e que era dominado

O odor, a voz, as idéias, os ambientes

Tudo teima em se atualizar e me dispersa o caminhar


Irei até ao final, sim

Cumprirei minhas demandas, vida, respostas, caminhos

Seguirei, sem alma