Eis-me aqui, somente casca, vazia, inerte, sem calor
Estou vivo, é uma certeza, falo, penso, ajo
Porém, não há alma, apenas sobrevivência
Seguirei, até o final da praia, disso há certeza
Mas não olharei o mar, as conchas, a areia, as pessoas...
Minha alma se foi, nublada, vítima, algoz, que seja
Roubou-me o dia, o sol, o instante
Os registros insistem em ironizar-me
No sorriso sincero, fragmentam-se lembranças, incontáveis
Lembranças do cotidiano, no íntimo, no social, no respirar
Anatomia que dominava, e que era dominado
O odor, a voz, as idéias, os ambientes
Tudo teima em se atualizar e me dispersa o caminhar
Irei até ao final, sim
Cumprirei minhas demandas, vida, respostas, caminhos
Seguirei, sem alma