A
Copa do Mundo de 2014 sediada no Brasil se destacou pelas inúmeras denúncias de
corrupção da FIFA, obras superfaturadas com o dinheiro público, construções de
“elefantes brancos”, desalojamento de famílias, aumento da repressão policial, além
das manifestações efusivas da classe trabalhadora indignada, não só com tais
prerrogativas, mas, também, com os ataques às seus direitos, o que ficou
evidenciado nas inúmeras paralisações da classe operária Brasil afora.
Pareado
a isso, as seleções deram um verdadeiro espetáculo de futebol, caracterizando o
evento, segundo os amantes do futebol, como um dos melhores dos últimos sete
mundiais (86, 90, 94, 98, 2002 e 2010). Há, porém, uma velha prerrogativa da
esquerda “vulgar” que rotula o futebol como “o ópio do povo”. Afirmação que
lateraliza a complexidade desse esporte e as contradições que o permeiam, tanto
em seu sentido antropológico (a figura do árbitro como a representação da
ordem, portanto constantemente hostilizado, o grito dos torcedores, etc.),
histórico (a apropriação pela classe trabalhadora por esse esporte criado pela
a burguesia), cultural (a disposição das torcidas em dada região pautado pelo
corte classista), lingüística (o uso de expressões do jogo pela classe
trabalhadora), dentre outros.
Há
inúmeros exemplos da forma política e contestatória que o futebol assume desde
a sua fundação enquanto esporte moderno, onde em sua trajetória há confrontos
com a ordem. Recentemente, o conservadorismo norte-americano, inconformado com
o crescimento do esporte na terra dos yankees, explicitou em suas declarações a
leitura preconceituosa e elitista em relação ao futebol, ao alegar que o
esporte era “coletivo demais” e “que só atraía a classe mais baixa da
sociedade”, ou seja, os imigrantes latinos.
O
debate político e o contexto econômico-social afeta, inclusive, o ambiente
tático das equipes. Todos se recusam a lembrar do Mundial de 90, ocorrido na
Itália, caracterizado como um dos piores da história, não só pelo baixo nível
técnico, mas também por uma maior preocupação com a defesa do que com o ataque.
Naquele período, a decadência dos regimes estalinistas do Leste Europeu e da
URSS fornecia a comemorada expressão “fim da historia” junto a burguesia
mundial, ou seja, o avanço do capitalismo através dos planos neoliberais que se
desdobrariam numa ofensiva de cortes para a classe trabalhadora. Enquanto isso,
no Mundial, a seleção brasileira, em sua pior campanha desde 1966, era o
retrato do país, pós-vitória de Collor. Com um esquema tático (3-5-2) criticado
por analistas esportivos, por tentar imitar as risíveis seleções “de fora”, a
equipe de Sebastião Lazaroni fazia coro aos planos econômicos adotados do país,
abertura ao capital estrangeiro e início de um duro processo de privatização
das estatais brasileiras. Em campo, o futebol das equipes representava
taticamente esse novo contexto mundial, a classe trabalhadora devia se defender
diante das ofensivas do capital. No grupo B, a URSS jogava a sua última Copa,
sendo eliminada ainda na primeira fase.
A crise econômica brasileira |
Em
relação a última Copa (2010 na África do Sul), o futebol entediante e sem
objetivo praticado pela Espanha, conhecido popularmente como “Tiki-Taka”, tinha
como principal finalidade desgastar psicologicamente o adversário, cometendo
passes curtos e pouco abusando da ofensividade. O resultado foi uma Espanha
campeã com placares modestos, ultrapassando apenas poucas vezes os dois gols.
Naquele ano, a crise na Espanha se intensificaria e levaria a grandes
manifestações no segundo semestre e com mais rigor em 2011, ressaltando um
descompasso da classe trabalhadora espanhola com o entediante “Tiki-Taka”
praticado pela seleção do seu país e o ainda “todo-poderoso”, Barcelona (em seu
último título da Liga dos Campeões da UEFA, principal torneio continental de
times da Europa), que, a exemplo da sua seleção, viria entrar em crise nos anos
posteriores a 2012.
O
futebol jogado na Copa do Mundo no Brasil (2014) demonstrou que ofensividade
com objetividade em nada retiram a beleza e a dinâmica do esporte tão amado
pela classe trabalhadora. Em compasso com as mobilizações mundo afora, as
seleções demonstraram que a coletividade e a atuação em bloco dão resultados
favoráveis, a exemplo dos trabalhadores. Para o futebol e para os operários,
não é tempo de “Tiki-Taka”, mas sim de atacar e avançar em suas tarefas!
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