"Hoje, se inicia um novo
ciclo na vida de cada um dos formandos aqui presentes. Muitos seguirão carreira
na graduação escolhida, outros optarão por outras atividades, porém o
sentimento será o mesmo: a lembrança dos fragmentos que compuseram o tecido poético
e cotidiano da convivência, da ocupação dos espaços da universidade, em suas
narrações, diálogos, ócio e trabalho intelectual, criador e reprodutor de
ferramentas que possibilitam uma atuação maior junto à sociedade.
Nossas responsabilidades
aumentam a partir de hoje, pois o acúmulo empregado nesses anos de graduação já
nos dão dicas quanto à compreensão dos fatos do dia-a-dia, reflexo de uma
construção histórica atreladas a características econômico-sociais, culturais e
políticas. Do caos intelectual que grande parte foi induzida a inserção nesse
curso superior, hoje, ao final dele, se esboça de forma sistemática a
possibilidade da retórica, da ação, da mudança, da indignação, de um
profissional que se enxerga além das premissas sistêmicas engessadoras da
criatividade e da atuação com ampla possibilidade de construção e reconstrução,
afinal estamos em constante aprendizado consigo mesmos e com o mundo.
Hoje é um dia especial para
todos, não só por concluir uma desgastante caminhada denunciada por noites em claro,
resultado das, ainda, insistentes avaliações, por horas de prisão nos
transportes públicos, pelo dispêndio e dificuldades financeiras gastas com
turbina intelectual, dentre zilhões de premissas que conjugadas nos
incentivavam a prosseguir com mais garra junto ao objetivo final. Os presentes
sabem da dificuldade que foi concluir esse curso! Cabe ressaltar que somente
10% dos jovens brasileiros estão no ensino superior, desses, um pouco menos de
3% tiveram o privilégio de frequentar uma universidade pública!
Deliberações comandadas por
órgãos internacionais financeiros ditam as política a serem aplicadas na
Educação, principalmente, em países periféricos, como é o caso do Brasil. Menos
de 3% do PIB é investido em Educação, sendo que o repasse é para o setor
privado, também. Tais premissas são fundamentais para exaltarmos o dia de hoje,
que além de toda cerimônia contemplando os novos historiadores se destaca por
convergir conjunturalmente com um período especial nas universidades públicas
brasileiras. Hoje, no Brasil, mais de 50 universidades aderiram à greve que
reivindica uma melhor reestruturação de carreira para os professores. Na UFF,
ocorre uma greve unificada dos três setores (técnicos, professores e alunos)
cientes da impossibilidade de progredir com posturas verticalizadas e
opressivas, que sequer consultam os interesses dos reais afetados.
Hoje, é o dia em que
convergimos com essa linha. Apesar de divergências ideológicas, no presente
quórum, todos têm uma certeza: somos historiadores, portanto, somos
inconformados! Inconformados com a injustiça, com a intolerância, com a
opressão, com egoísmo, com a repressão, com a falta de amor e lealdade ao
próximo! Somos a favor da diversidade, do respeito, da harmonia, do sorriso!
Sorriso que ofusca a cansaço e abrilhanta o olhar calejado de cada presente!
Sorrisos que serão convenientes a cada recordação, a cada averiguação de
relações contemporâneas ao acúmulo da universidade, a cada saudade, a cada
dia...
Não, não é o fim! É a apenas
o começo de uma nova vida, novas demandas, novos laços e, principalmente, novas
perspectivas e despedidas! Como dizia um velho barbudo: “Os
filósofos até o momento
só fizeram interpretar o mundo, o mais importante não fizeram, que é transformá-lo”. Eis que chegou nossa hora, agora como
historiadores habilitados, transformemos nossas vidas com humanidade e
revolução!"
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