segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Medo de mudar

Na véspera da Marcha à Brasília estávamos lá. Sentados, impacientes, nos entreolhando e temerosos que um maléfico plano arbitrário fosse inserido sem o mínimo de consulta. De fato isso aconteceria alguns meses depois e nada poderíamos fazer. De qualquer jeito, aquele dia ele não o foi. Um pouco mais de trezentos e cinquenta estudantes possuíam um objetivo em comum: barrar a qualquer preço aquele projeto insano que sucatearia as universidades a longo prazo. Das cadeiras, o público inquieto se remexia e engolia a insatisfação diante dos absurdos que eram proferidos pelos agentes do capital. O ministro do cinismo, em sua soberba, apenas nos observava cético, provavelmente, refletindo quanto a possibilidade de se livrar daquilo.

O período era frutífero para revolucionários: ocupações em todo país, expulsão de estudantes que lutavam por assistência estudantil no campus... Tudo isso num cenário de reformas universitárias comandadas pelo capital, crescente criminalização dos movimentos sociais, além da proposta de votação de uma Lei antigreve pelo representante mor do lado de lá. O ataque era desumano e recrudescedor por parte deles. Por outro lado, lá estávamos nós. Nus em armas, mas preparados intelectualmente. Solidários. Esperançosos.

Percebemos que vencemos, quando, diante da anunciada derrota, o inimigo, envergonhado, se retirou. Apenas o observamos incrédulos desmerecer a um conselho e ultrapassar a porta com passos ligeiros. Não nos restou alternativa. Reforçaríamos a ocupação daquele espaço. E lá ficamos durante dois dias. Temerosos da repressão, nos conhecendo, vislumbrando o futuro... Mas se foi. As pessoas mudam, ideologias mudam, medos mudam... Meus amigos cresceram e eu não. E quem disse que eu quero?