sexta-feira, 13 de abril de 2012

Central


Num paredão em frente, a seguinte afirmação: “Se a coisa tá muito ruim, é porque tá perto de melhorar”, embaixo a figura de Bezerra da Silva, o compositor dos artistas periféricos. Rostos desgastados promovem a textura classista da Central do Brasil. Homens e mulheres de várias idades, porém, com algo em comum, a exploração e a melancolia latente em sua aura. Fenômeno que às vezes me contamina diante da passividade do cotidiano. Minha principal aspiração é, em meu “egoumbiguismo”, viajar sentado, torcida sempre em vão, devido ao enorme contingente de trabalhadores e o transporte ultra precário que se decai, a cada dia.  
O ambiente é o misto de odores: fritura, urina, suor e, principalmente, angústia. A subsunção do trabalho ao capital é um das maiores crimes que o sistema se legitimou a conceber a esses seres. A pele envelhecida, em sua textura esmiuçada, os olhos longe, sem consciência, e o temor de pensar no próximo dia. Enfileirados, com esperas de até uma hora, aguardamos pacientemente o fazer-se dos ditames da hegemonia. De forma resignada, cabe a nós, sem consciência, sem amor, sem vida, não pensarmos, apenas seguirmos. O Palácio Duque de Caxias, ao lado, se apresenta, voluntarioso, para uma repressão, caso a estação mais perigosa do Brasil conceba a desordem.
Apesar do calor, a frieza é mórbida. É o se sentir alijado, massacrado pelo sistema. Talvez, eles já tenham sonhado um dia. Quem sabe. Hoje, são presos, sem paixão, sem vontade, sem vida. Todos os dias, observo os rostos e a expressões de um a um, em sua tristeza, em seu desgaste, em sua retidão. E ao adentrar-me no ônibus, percebo que essa é principal tendência. Cansaço, desânimo, perda da vivacidade. Sintomas que são diluídos em casa, com um banho e o sono. Sim, tenho medo de ficar como eles.